"O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem." (Rubem Alves)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

ARTIGO: A ACESSIBILIDADE É UM DIREITO BÁSICO


infelizmente, as condições de vida das pessoas com deficiência no Ceará estão muito distantes do contexto necessário de vida almejada por um público de aproximadamente dois milhões de habitantes. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas com deficiência residentes no Estado representam 27,69% da população. A taxa supera os índices regional e nacional, e está no terceiro lugar no ranking nordestino.

Entre as demandas para este segmento, a falta de acessibilidade nos passeios e nos transportes é a meu ver o impeditivo para a conquista dos outros direitos. Sem acesso não se consegue chegar a lugar nenhum. Os que chegam ou chegaram o fizeram porque, além da própria vontade e de determinação, tiveram o apoio da família e dos amigos.

Não é a toa que pessoas com deficiência que têm vida produtiva causam estranheza na maioria. Ainda bem que a minoria que está na luta vem conseguindo modificar esse tipo de visão e os preconceitos. Aliás, muitas vezes o preconceito ocorre muito mais pela falta de conhecimento e de convivência dessas pessoas com a diversidade humana.

Acredito que este cenário poderá melhorar. Todavia será necessário que haja vontade política, estratégia e solidariedade. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), não é a deficiência em si que limita a pessoa, ela faz parte da diversidade humana. Ou seja, o que incapacita o indivíduo é o meio em que ele vive, com as cidades edificadas inadequadamente, os costumes segregadores e ultrapassados.

Nesse sentido o que você acha da sua cidade? Ela continua segregacionista? A minha sim, por muitas vezes me sinto segregada e desvalorizada como consumidora; desrespeitada como cidadã que cumpre seus deveres. E apesar das sequelas da distrofia muscular, tenho uma vida bastante movimentada: trabalho, estudo, viajo, frequento cinemas, teatros, restaurantes com amigos, etc.

Participar de eventos como o Fórum de Deficiência e Acessibilidade possibilita-nos criar e dialogar, caminhando pelo fluxo da diversidade, da verdadeira inclusão. Incentivando ações com foco na acessibilidade, estimulando pessoas a manterem-se com espírito de comunidade, aventurando-se pela vida no verdadeiro sentido da inclusão, como sugere Scott Rains: “A acessibilidade é um fazer para – uma tarefa do século XX. A inclusão é um fazer com – uma visão do século XX1. Qual das duas abordagens torna as comunidades mais fortes”?

Autora: Maria Ilmacir Siqueira Machado
ilmacir@yahoo.com.br
Servidora pública Federal, administradora pública e cadeirante

Obs.: texto originariamente publicado no JORNAL O POVO, edição de 07/08/2012, p. 7 do Caderno Principal.