"O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem." (Rubem Alves)

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

ESPECIALISTA FRANCÊS DEFENDE QUE TRANSPORTE INDIVIDUAL "SEJA PENALIZADO" NAS CIDADES

Migração do transporte individual para o transporte público só ocorre quando há fortes medidas restritivas para o automóvel, acredita doutor em Economia dos Transportes.

Para oferecer às cidades uma maior qualidade de vida, com melhorias da mobilidade urbana, não basta ampliar a rede de transporte público. Sistemas eficientes de metrô, VLT (veículo leve sobre trilho), trens urbanos ou BRTs (transporte rápido por ônibus) atraem os passageiros. Mas, para que ocorra de fato a redução de carros particulares nas cidades, “é necessário penalizar o transporte individual”.

A medida foi defendida pelo professor de Política de Transporte e Planejamento Bruno Faivre D´Arcier, que também é doutor em Economia dos Transportes, engenheiro da Escola Central de Paris e diretor do Departamento de Transportes da Faculdade de Ciências Econômicas e de Gestão da Universidade Lumière Lyon II, na França. “Não adianta aumentar a oferta de transporte público se não penalizar o uso do carro”, afirmou D´Arcier, durante o Seminário Internacional Mobilidade e Transportes, promovido na Universidade de Brasília (UnB), de 27 a 29 de agosto.

Segundo ele, os melhores resultados em relação à mobilidade urbana podem ser mostrados pelas cidades que aplicaram medidas para restringir a velocidade do automóvel e para aumentar o custo dos estacionamentos nos centros urbanos. O aumento no preço do combustível também é um motivo que acaba levando, muitas vezes, ao abandono do carro particular e à volta ao transporte público, conforme o especialista francês. Em Lion, a participação do carro no trânsito é inferior a 50%.

Ao comentar sobre quais bons exemplos citaria em relação a essa penalização do transporte individual na França, D´Arcier lembrou que o caso mais simbólico é o do VLT na região de Paris, que dá voltas completas em grandes avenidas, formando uma barreira para o automóvel. É dada prioridade à circulação do VLT em relação aos veículos particulares.

Na capital francesa, conforme o especialista em transporte, a política de estacionamento é bastante eficiente no sentido de reduzir o uso do transporte individual. “O custo de estacionamento em Paris é extremamente alto. São cobrados valores considerados excessivos para muitas famílias. Essa política de preços altos nos estacionamentos é uma ótima forma de se limitar o uso do carro”.

Paris impôs medidas restritivas para o uso de automóveis

O professor Paulo César Marques da Silva, coordenador da pós-graduação em transporte da UnB, concorda que é necessário e urgente restringir o transporte individual nas cidades e considera que o Brasil poderia implementar medidas mais efetivas nesse sentido. Entretanto, o professor avalia que o ideal é não aplicar o termo penalizar, pois a restrição do uso do automóvel está ligada a uma questão de justiça sobre o ordenamento das cidades.

“Ao aplicar as restrições, há uma internalização dos custos sociais do automóvel. Quando saio no meu carro, estou emitindo poluentes e todos estão pagando por isso. Ao deixar o meu carro estacionado o dia inteiro no local de trabalho, estou ocupando um lugar, que é público, privadamente. Então, se forem criadas formas de cobrar do usuário do automóvel pelos custos que ele está produzindo, é somente uma questão de justiça”, defende o professor da UnB.

A implementação de alguma forma de pedágio urbano, restrição de circulação em áreas de preservação histórica e altos preços em estacionamentos são algumas medidas para dificultar o transporte individual. Mas, de acordo com o professor da Universidade de Brasília, todas essas e outras medidas não irão resolver o problema se forem implantadas sozinhas. É necessário oferecer condições de circulação.

“Não se pode criar restrições ao uso do automóvel sem oferecer mobilidade para quem não está usando o automóvel. Senão, há um comprometimento do direito de ir e vir. É preciso investir na mobilidade das cidades para que a liberdade de viver não seja comprometida”, avalia Marques. De acordo com o professor, as duas medidas devem ser implementadas de forma simultânea – tantos as restrições ao transporte individual como o investimento em alternativas para os deslocamentos. Assim, na avaliação de Marques, a migração do transporte individual para o transporte público ocorrerá de forma natural.

Cynthia Castro
Agência CNT de Notícias